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Fátima Baroni Tonezer

Empoderamento afetivo: a busca da completude

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Na busca de um relacionamento nos colocamos no lugar de encontrar alguém que nos complete. Frases como: “a tampa da panela”, “metade da laranja”, ”cara metade”… e outras parecidas nos falam dessa busca. Isso porque, como bem assinala a Psicanálise, somos seres faltantes, sentimos um “vazio existencial”.

A sensação de completude já existiu, nós já nos sentimos completos. Onde? Na barriga da mãe. A busca pela parte que nos falta, a sensação de vazio, aparece ao nascer, quando se rompe o cordão umbilical.

Durante a gestação, o bebê vive uma relação de amplitude, onde somos um só, a mesma respiração, a ligação pelo cordão umbilical. E a relação perfeita, que nos nutra de tudo o que necessitamos, se desfaz ao nascer. E aí nasce junto o vazio. E tem início a busca daquele que vai preencher o vazio, o buraco afetivo.

A BUSCA DAQUILO QUE ME FALTA!

O relacionamento afetivo é uma função. Não preenche tudo. Isto porque aqui fora nós podemos compartilhar, construir, sonhar com o outro. Mas eu sou inteira. O outro é inteiro. Tudo não cabe num pacote só. A gente espera (lá vem nossas expectativas de novo!) que o outro seja o namorado(a), mãe/pai, melhor amigo.

Isto faz parte da contabilidade afetiva, cada um dá o que tem. Dê o que você tem e receba o que o outro tem para dar a você. Se o que o outro tem a oferecer faz de você uma pessoa feliz, alegre, muito bom. Se não, é hora de ir procurar outra pessoa que te faça se sentir melhor, que coloque humor, afeto e parceria no jogo amoroso.

Para sair de uma relação que não te faz bem, é importante saber o limite entre a vontade de estar com alguém para ter um parceiro e a dependência afetiva, a diferença sutil entre querer estar com alguém e precisar estar com alguém. Uma metáfora para explicar isso é a respiração. Eu preciso respirar. É uma necessidade fisiológica, básica para a vida. Não é uma escolha. Mas se alguém colocar um saco plástico na minha cabeça, eu vou ter falta de ar, dificuldade para respirar.

Isto é sentir falta. Precisar é outra coisa. O sentir falta é algo externo a mim, não interno. Isto porque geralmente as pessoas acham que o valor delas é dado pelo outro e não é. O outro não me querer não me tira a capacidade de respirar, ou seja, ele não rouba a minha capacidade. O outro pode não me querer por muitos motivos e estes não terem nada a ver comigo.

Quantas vezes você já não quis uma pessoa? E não tinha a ver com a pessoa, tinha a ver com seu momento de vida, suas necessidades. É importante não confundir precisar de uma pessoa com querer esta pessoa. Eu posso querer uma pessoa, mas eu não preciso dela para viver. Eu preciso de um amor, não necessariamente com esta pessoa.

Quando você precisa se esforçar numa relação, é sinal de que algo não está bem. Porque quando uma relação flui, não tem necessidade de fazer força, concessões por medo de perder, por temer a rejeição. Você começa a fazer coisas que não acredita, coisas que agridem seus valores.

Para não perder o amor do outro, para não ficar sozinho, você escolhe a solidão, a ausência de satisfação das necessidades, a tristeza. Se contenta com migalhas por se sentir incapaz, não merecedora. Por não conhecer a si e as suas necessidades, coloca em mãos alheias a sua vida, isto é a síntese da dependência afetiva. E uma pessoa pode ser dependente afetiva do parceiro, do pai, mãe, dos amigos.

Não olhar para si e viver para atender os outros, na expectativa de ser amada, não ser rejeitada, mantém a pessoa exausta, doente. Para entender e sair da dependência, pergunte-se: quantos anos eu tenho? Quantos anos eu conheço ou vivo com esta pessoa? O que eu já fiz sem essa pessoa?

Você vai perceber que você vive e viveu sem esta pessoa. Você cresceu e sabe se cuidar. Sair desta relação vai doer, você vai sofrer. Mas isso não é um problema nem o fim.  Na vida há sofrimentos e alegrias. Permita-se sofrer. Olhe para essa dor e o que a acompanha e saia para viver. Faça as mudanças que você precisa por você. Como? Tem muitos artigos meus nesta coluna falando do tema. E no meu Instagram também. Se você ainda não me segue, é fácil: @psicofatimabaroni.

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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