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Elio Migliorança

Modelo sepultado pelo Estado

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Está no centro das atenções o modelo de privatização da educação no Estado do Paraná, proposto pelo governador Ratinho Junior e já aprovado pela Assembleia Legislativa. Sobram especulações e incertezas sobre o projeto carinhosa e ardilosamente batizado de “parceiros da Escola” e faltam informações e transparência sobre o funcionamento do proposto programa de privatização. Nos bastidores há muitas especulações e números que assustam aqueles que conhecem o funcionamento de um colégio.

Todavia, é oportuno recordar neste momento que o Oeste do Paraná, de forma especial, possuía um projeto comunitário de educação, considerado perfeito na sua essência e nos resultados obtidos, porém que foi sepultado pelo Governo do Paraná. Na década de 1965 a 1990 existia uma rede de Escolas da Comunidade que protagonizou e escreveu uma das mais significativas páginas da história da Educação do nosso Estado, cuja maior presença e força estava justamente no Oeste do Paraná.

Refiro-me à rede de escolas da comunidade denominada Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, conhecida popularmente pela sigla CNEC. Esta rede de escolas criada no Brasil pelo saudoso Felipe Tiago Gomes, em 1943, na cidade do Recife, chegou aos rincões do nosso Oeste do Paraná no início da década de 1960, quando o Estado não chegou para dar educação aos filhos dos migrantes.  

Os colonizadores buscaram na força da comunidade sua organização e foi assim que surgiram as Escolas da CNEC, que eram administradas pela própria comunidade e sustentadas pelas mensalidades pagas pelos próprios alunos. Foi o caso de Nova Santa Rosa, quando ainda era distrito de Toledo, e assim nos demais distritos de Toledo, de Marechal Cândido Rondon e outros municípios da região.

No início da década de 1980 começou uma política de estrangulamento das escolas da comunidade protagonizada pelo Governo do Estado. Das escolas da antiga CNEC, cujo nível de ensino formou profissionais da melhor qualidade, saíram os cidadãos e cidadãs que fizeram do Oeste do Paraná uma das mais pujantes e ricas regiões do Brasil. Todos os distritos rondonenses tinham uma escola da comunidade e assim foi nos distritos de Toledo e demais municípios da região.

Ao invés de prestigiar estas escolas e dar-lhes condições de aprimoramento, o Governo do Estado optou por liquidá-las. Ao lado de uma escola da comunidade a Secretaria da Educação do Estado criava uma escola estadual que era gratuita. Com isso as escolas da comunidade fecharam as portas e foram extintas. Ratinho Junior nem tinha nascido ainda quando estas coisas estavam acontecendo nessas terras abençoadas por Deus e colonizadas pela força e coragem dos migrantes.

Aquele modelo de escola da comunidade que o Governo do Estado sepultou agora é ressuscitado de forma torta porque o novo projeto será entregue à iniciativa privada para alguém ganhar muito dinheiro fazendo a gestão.

Escola pública e gratuita é um direito de todos, afinal, paga-se muito imposto para tal fim. O equívoco foi a liquidação pura e simples das escolas da comunidade, quando, na verdade, o ideal teria sido a participação do Estado pagando a mensalidade dos alunos e mantendo a gestão das escolas nas mãos da própria comunidade.

Esperamos que a prometida consulta à comunidade seja efetivamente realizada, que o processo seja transparente e que a vontade da comunidade seja respeitada.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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@eliomiglioranza

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